O NOSSO PATRONO

 

S. Nuno de Santa Maria - Patrono da FNA

 

 

 

6 de Novembro, dia de S. Nuno

 

À Fraternidade de Nuno Álvares, associação dos antigos filiados do CNE, foi-lhes indicado como Patrono a figura notável e imortal de um ser humano que se destacou ao longo de toda a sua vida, por defender os valores em que acreditava e em que muito se aproxima dos princípios que os Escuteiros Adultos, querem fazer todo o possível por cumprir. Essa figura foi: D. NUNO ÁLVARES PEREIRA. É nesse contexto e com esta personagem em que podemos assentar toda a nossa mística, nas suas três grandes dimensões.


Primeiro, devemos vê-lo como HOMEM, que desde o seu nascimento, pela educação que recebeu no seio da sua  família e dos mestres que teve, e ainda pela sua juventude cheia de movimento e aventuras, vivida ao ar livre, muito  ajudou a formar o seu firme carácter. Devemos reflectir que este jovem aos 13 anos foi admitido na corte e posteriormente armado cavaleiro, primeiro como pajem da Rainha onde foi completando a sua formação e mais tarde como um militar audaz e valente. Já investido e inspirado nas figuras reais ou fictícias como do Rei Artur e dos seus companheiros da Távola Redonda, escolheu o seu pendão e junto dele foi reunindo um grupo de fiéis soldados, que foi formando à sua maneira. Em paralelo, acompanhou a sua vida levando uma vida profundamente cristã, tanto como praticante como pelo exemplo dado.


Segundo, devemos admirar a sua vertente de HERÓI, que o foi valorosamente com feitos importantes e inesquecíveis, que passaram pelas encostas de Lisboa, os campos dos Atoleiros, Aljubarrota, Valverde, chegando até às terras de Ceuta, em África. É este exemplo que todos desejamos imitar ainda hoje. Não desejamos ser uns meros heróis de capa e espada nem tão pouco da banda desenhada ou do cinema. Queremos, sim, ser heróis comuns na vida do dia a dia: o herói que arrisca a vida quando se senta ao volante do carro para ir trabalhar ou levar os filhos à escola ou mesmo quando viaja de avião ou navio em serviço ou de férias. Queremos ser o herói que luta pela sobrevivência, para criar a família e educar os filhos. Queremos ser o herói que enfrenta o egoísmo, a vaidade, a corrupção, a falta de lealdade, a inveja… tanto no escritório, na fábrica, na loja…como junto dos amigos ou meramente conhecidos. Nuno indica-nos o caminho como um líder, um chefe, um comandante e não como um indivíduo amorfo ou estático, perante as dificuldades que surgem constantemente na vida. Valente e não cobarde, animado e alegre e não enfadonho ou triste. Sigamos, pois, o seu exemplo.

 

Terceiro, inspira-nos ainda como SANTO, para chegar à santidade, objectivo final de qualquer cristão. Não devemos esquecer a mensagem do Papa João Paulo II, quando nos apelou: “não tenham medo de ser santos”. S. Nuno ofereceu-nos, permanentemente, exemplos positivos, tais como: de solidariedade, principalmente com os mais pobres; de humildade revelada pelo abandono e doação da sua imensa fortuna, só equiparada ao do próprio rei; a suavidade e a doçura pela vida pura que levou, quando escolheu a Ordem dos Carmelitas, onde trocou as ricas vestes e luzidia armadura, por um burel castanho de simples monge. Era assim que desejava viver em profundo recolhimento os seus últimos anos de vida, como servidor de Deus e fazendo o bem. Assim, a população de Lisboa, logo começou a saudá-lo como Santo Condestável.

 

Por analogia podemos comparar partes da sua vida com a de um verdadeiro Escuteiro. Começou como escudeiro da Rainha e, ainda, muito novo teve que fazer as “provas de admissão” que na época eram normais: comportamento na corte, etiqueta nas refeições, domínio das armas, treino constante de equitação, gosto pela leitura e muitas outras provas. Depois de ultrapassadas com sucesso, foi aprovado e investido como cavaleiro, aceitando voluntariamente as suas leis e as do reino. De véspera ficou toda a noite em meditação e oração, a que chamamos Velada de Armas. Na manhã seguinte, foi-lhe vestido o arnês, recebeu as esporas, o elmo e por último recebeu a espada, seguindo-se o ritual do juramento. Como madrinha teve a própria Rainha. Todo este cerimonial leva-nos a comparar com a nossa Velada de Armas ou Vigília de Oração e com a Promessa, quando o Escuteiro já uniformizado e após a Promessa, recebe do Assistente o lenço e da madrinha o chapéu ou o “beret” e por fim do chefe que o saúda-o e cumprimenta, entrega-lhe a vara.

 

Todo o seu apoio e ajuda foi dedicado ao Mestre de Avis, mais tarde D. João I, a quem D. Nuno prometeu fidelidade e respeito, e pelo seu mérito pessoal levou-o a alcançar o comando supremo do exército português, sendo designado aos 25 anos Condestável de Portugal. É o caminho exemplar de um bom Escuteiro que vai conquistando, ano após ano, as várias etapas de progresso, competências, especialidades, prémios, até vir a alcançar a honra de ser designado Cavaleiro da Pátria.

 

É este o nosso ideal, que transforma uma simples boa acção em actos profundos de solidariedade até mesmo de abnegação, por vezes com risco da própria vida. Nessa galaria encontram-se imensos escuteiros heróis, por todo mundo. É esta a nossa mística, que por um lado tem como cenário os campos de batalha e por outro lado as lajes do Convento do Carmo, em Lisboa, onde S. Nuno de Santa Maria veio a morrer em paz. Os seus restos mortais encontram-se actualmente na Igreja de São Condestável, também em Lisboa.

 

Quando alguém vos perguntar: Qual é a mística da FNA? Contem-lhes esta história, à vossa maneira, não esquecendo de chamar à atenção que ninguém cumpriu melhor os seus deveres para com Deus, o Igreja e a Pátria que Nuno Álvares. Ele foi um bom cidadão e filho de Portugal, lutando sempre pela sua independência e a liberdade da Pátria. Foi, também, um bom filho, marido e um esforçado pai, o que muito nos orgulha ter como Patrono e modelo da nossa Associação.

 

São Nuno de Santa Maria, foi canonizado em Roma, em 25 de Abril de 2009, por sua Santidade o Papa Bento XVI, e é celebrado liturgicamente no dia 6 de Novembro. Este texto não tem a pretensão de ser uma bibliografia sobre D. Nuno Álvares Pereira, nem mesmo com a designação de S. Nuno de Santa Maria, mas aconselhamos a quem desejar conhecer melhor a sua vida a consultarem algumas das muitas obras existentes sobre esta gloriosa figura.

 

 

 

Biografia de São Nuno de Santa Maria

 

 (1360 – 1431)

 

 

Nuno Álvares Pereira nasceu em Portugal a 24 de Junho de 1360, muito provavelmente em Cernache do Bonjardim, sendo filho ilegítimo de fr. Álvaro Gonçalves Pereira, cavaleiro dos Hospitalários de S. João de Jerusalém e Prior do Crato, e de D. Iria Gonçalves do Carvalhal. Cerca de um ano após o seu nascimento o menino foi legitimado por decreto real, podendo assim receber a educação cavalheiresca típica dos filhos das famílias nobres do seu tempo. Aos treze anos torna-se pajem da rainha D. Leonor, tendo sido bem recebido na Corte e acabando por ser pouco depois cavaleiro. Aos dezasseis anos casa-se, por vontade de seu pai, com uma jovem e rica viúva, D. Leonor de Alvim. Da sua união nascem três filhos, dois do sexo masculino, que morrem em tenra idade, e uma do sexo feminino, Beatriz, a qual mais tarde viria a desposar o filho do rei D. João I, D. Afonso, primeiro duque de Bragança.

 

Quando o rei D. Fernando I morreu a 22 de Outubro de 1383 sem ter deixado filhos varões, o seu irmão D. João, Mestre de Avis, viu-se envolvido na luta pela coroa lusitana, que lhe era disputada pelo rei de Castela por ter desposado a filha do falecido rei. Nuno tomou o partido de D. João, o qual o nomeou Condestável, isto é, Comandante supremo do exército. Nuno conduziu o exército português repetidas vezes à vitória, até se ter consagrado na batalha de Aljubarrota (14 de Agosto de 1385), a qual acaba por determinar à resolução do conflito.

 

Os dotes militares de Nuno eram no entanto acompanhados por uma espiritualidade sincera e profunda. O amor pela eucaristia e pela Virgem Maria são a trave-mestra da sua vida interior. Assíduo à oração mariana, jejuava em honra da Virgem Maria às quartas-feiras, às sextas, aos sábados e nas vigílias das suas festas. Assistia diariamente à missa, embora só pudesse receber a eucaristia por ocasião das maiores solenidades. O estandarte que elegeu como insígnia pessoal traz as imagens do Crucificado, de Maria e dos cavaleiros S. Tiago e S. Jorge. Fez ainda construir às suas próprias custas numerosas igrejas e mosteiros, entre os quais se contam o Carmo de Lisboa e a Igreja de S. Maria da Vitória, na Batalha.

 

Com a morte da esposa, em 1387, Nuno recusa contrair novas núpcias, tornando-se um modelo de pureza de vida. Quando finalmente se alcançou a paz, distribui grande parte dos seus bens entre os seus companheiros, antigos combatentes, e acabo por se desfazer totalmente daqueles em 1423, quando decide entrar no convento carmelita por ele fundado, tomando então o nome de frei Nuno de Santa Maria. Impelido pelo Amor, abandona as armas e o poder para revestir-se da armadura do Espírito recomendada pela Regra do Carmo: era a opção por uma mudança radical de vida em que sela o percurso da fé autêntica que sempre o tinha norteado. Embora tivesse preferido retirar-se para uma longínqua comunidade de Portugal, o filho do rei, D. Duarte, de tal o impediu. Mas ninguém pode proibir-lhe que se dedicasse a pedir esmola em favor do convento e sobretudo dos pobres, os quais continuou sempre a assistir e a servir. Em seu favor organiza a distribuição quotidiana de alimentos, nunca voltando as costas a um pedido. O Condestável do rei de Portugal, o Comandante supremo do exército e seu guia vitorioso, o fundador e benfeitor da comunidade carmelita, ao entrar no convento recusa todos os privilégios e assume como própria a condição mais humilde, a de frade Donato, dedicando-se totalmente ao serviço do Senhor, de Maria a sua terna Padroeira que sempre venerou, e dos pobres, nos quais reconhece o rosto de Jesus.

 

Significativo foi o dia da morte de frei Nuno de Santa Maria, o domingo de Páscoa, 1 de Abril de 1431, passando imediatamente a ser reputado de “santo” pelo povo, que desde então o começa a chamar “Santo Condestável”.

 

Mas, embora a fama de santidade de Nuno se mantenha constante, chegando mesmo a aumentar, ao longo dos tempos, o percurso do processo de canonização será bem mais acidentado. Promovido desde logo pelos soberanos portugueses e prosseguido pela Ordem do Carmo, depara com numerosos obstáculos, de natureza exterior. Foi somente em 1894 que o Pe. Anastasio Ronci, então postulador geral dos Carmelitas, consegue introduzir o processo para o reconhecimento do culto do Beato Nuno “desde tempos imemoriais”, acabando este por ser felizmente concluído, apesar das dificuldades próprias do tempo em que decorre, no dia 23 de Dezembro de 1918 com o decreto Clementissimus Deus do Papa Bento XV.

 

As suas relíquias foram trasladadas numerosas vezes do sepulcro original para a Igreja do Carmo, até que, em 1961, por ocasião do sexto centenário do nascimento do Beato Nuno, se organizou uma peregrinação do precioso relicário de prata que as continha; mas pouco tempo depois é roubado, nunca mais tendo sido encontradas as relíquias que contivera, tendo sido depostos, em vez delas, alguns ossos que tinham sido conservados noutro lugar. A descoberta em 1966 do lugar do túmulo primitivo contendo alguns fragmentos de ossos compatíveis com as relíquias conhecidas reacendeu o desejo de ver o Beato Nuno proclamado em breve Santo da Igreja.

 

O Postulador Geral da Ordem, P. Felipe M. Amenós y Bonet, conseguiu que fosse reaberta a causa, que entretanto era corroborada graças a um possível milagre ocorrido em 2000. Tendo sido levadas a cabo as respectivas investigações, o Santo Padre, Papa Bento XVI, dispõe a 3 de Julho de 2008 a promulgação do decreto sobre o milagre em ordem à canonização e durante o Consistório de 21 de Fevereiro de 2009 determina que o Beato Nuno seja inscrito no álbum dos Santos no dia 26 de Abril de 2009